terça-feira, 27 de setembro de 2016

Unhas Vermelhas

Ontem, no dia 26, completaram-se dois meses desde o falecimento da minha querida mãe. Lembro-me de quando eu costumava pintar suas unhas com esmalte vermelho enquanto morávamos juntas. Ela ficava linda com aquelas unhas pintadas, e isso nos trazia alegria.

É difícil falar dela agora, quando sua presença não está mais aqui. Uma vez, ela me contou uma história sobre um encontro que teve quando era jovem e solteira. Um pintor jovem sentou ao lado dela em um trem e ficou admirado com suas mãos delicadas e suas unhas uniformemente pintadas de vermelho. Esse encontro resultou em um breve romance. Um dia, ele presenteou minha mãe com um esmalte vermelho e deu a ela seu telefone para marcar um encontro. No entanto, minha mãe ligou para ele apenas uma vez e, como ele não atendeu, ela nunca mais tentou entrar em contato. Logo depois, ela se mudou de São Paulo e perdeu contato com ele para sempre.

Minha mãe sempre me contava essa história, e acredito que, se eles tivessem continuado juntos, provavelmente não teriam dado certo. Tanto ela quanto esse jovem tinham personalidades fortes que poderiam ter causado inúmeras discussões. Com meu pai, era diferente. Ele sempre foi ótimo e nunca levantou a voz para minha mãe. Segundo meu pai, tudo estava perfeitamente bem.

Nas últimas semanas de vida da minha mãe, ela estava brava no hospital. Meus irmãos e eu costumávamos brincar dizendo que se ela estava brava, era porque se sentia bem. Agora, percebo o quão tolos fomos ao dizer tal coisa. Se soubéssemos que seriam nossas últimas semanas juntos, jamais teríamos feito essa bobagem. Minha mãe estava brava por causa do sofrimento que sentia. Ela reclamava muito da falta de ar e pedia para conseguir respirar. Infelizmente, devido a complicações em seu organismo, o ar não chegava por completo aos seus pulmões. Foi um período muito doloroso, e apenas lembrar desses momentos já é angustiante. As últimas semanas com minha mãe não foram nada parecidas com os tempos antigos em que eu cuidava dela. Ela estava sofrendo demais na cama do hospital, reclamando o tempo todo, e não tivemos tempo para conversas ou recordações dos velhos tempos.

Sinto tanta falta de pegar em suas mãos e pintar suas unhas. Eu nunca mais terei essa oportunidade novamente. É insuportável viver sabendo disso. Apenas dois meses se passaram, e ainda é difícil de acreditar. Fico pensando se ela tinha sonhos guardados dentro dela, além do desejo comum de toda mãe de ver seus filhos bem. Será que existiam sonhos apagados dentro dela, que foram esquecidos com o tempo? São perguntas sem respostas.

Desejo, de coração, realizar meus próprios sonhos para, um dia, quando eu envelhecer, poder pensar: "Consegui realizar tudo o que sempre quis". Este é mais um diário que deixo aqui. Espero que tenham gostado e se inspirado nessa história de amor que minha mãe viveu. Lembrem-se: sonhar é essencial, mas realizar é imprescindível.

Até mais.

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